A punção epicárdica por abordagem percutânea subxifoidea para acesso do espaço pericárdico foi uma técnica desenvolvida no Instituto do Coração (InCor HC-FMUSP) em 1995 por Eduardo Sosa (in memoriam), Maurício Scanavacca e Andre D’Ávilla para mapeamento e ablação de taquicardia ventricular em pacientes com miocardiopatia chagásica. Nestes pacientes há circuitos cicatriciais subepicárdicas (mais próximos da face externa do coração) em até 37% dos casos, que seriam inatingíveis pela técnica convencional endocárdica (face interna do coração).
Atualmente segundo os consensos de várias sociedades médicas internacionais, a técnica é utilizada em pelo menos 20% dos pacientes submetidos a ablação de taquicardia ventricular sustentada em centros médicos terciários, dos quais faz parte o Hospital Socor. Os pacientes que mais se beneficiam são aqueles refratários ao uso de medicação antiarrítmica e submetidos a choques recorrentes de cardiodesfibriladores implantados para prevenção de morte súbita no contexto de miocardiopatias não-isquêmicas.
Para realização da técnica de abordagem do espaço pericárdico é utilizada uma agulha de anestesia para punção peridural (Tuohy 18G). A equipe de Eletrofisiologia do Hospital Socor capitaneada pelo Dr. André Assis e integrada pelos Dr. Marcos França, Dr. Reynaldo Miranda e na anestesiologia pelos Dr André Vinicius Campos e o Dr Wagner Fernandes Júnior não só faz uso da mesma como também utiliza um novo material para micropunção com agulha menos traumática (21G) descrita desde 2015 por Gunda, Natale e cols. Isso permite minimizar taxa de complicações como hemopericárdio e necessidade de abordagem cirúrgica para menos de 1%.
Foram nestes moldes que foi realizada a ablação de taquicardia ventricular sustentada do paciente Z.A.A., 85 anos, no contexto de tempestade elétrica e choques recorrentes do cardiodesfibrilador no dia 30/06/2020. Foram realizadas as abordagens: epicárdica por micropunção e endocárdica com uso de mapeamento eletroanatômico tridimensional. O paciente realizou breve passagem pelo CTI para pós-operatório e recebeu alta hospitalar no dia 08/07/2020 sem novos episódios arrítmicos.
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